Fernando Rosa

A cobertura das manifestações em São Paulo pela Globo News, na quarta-feira, foi de uma bandeira total, que só não percebeu quem peca pela extrema ingenuidade política. A rede golpista deixou sua grade aberta por mais de uma hora, focando suas câmeras nos mascarados e black blocs que quebravam tudo à sua frente. Em especial, deixaram pelo menos uns cinco minutos as imagens de alguns provocadores tentando virar uma viatura da Polícia Militar.

Durante quase seis meses de mobilização contra o golpe de estado, nenhum black bloc, nenhum mascarado deu às caras para apoiar a luta popular nas ruas. Agora, nos primeiros dias da resistência ao golpe consumado, eles surgem com força principalmente em São Paulo e em Porto Alegre, onde, aliás, tiveram maior presença nas manifestações de 2013. É mais do que evidente a ação organizada, coordenada das P2 da Polícia Militar, desviada das suas ações de prevenção para estimular a provocação e a desordem.

O presidente golpista-temporário, ao contrário do discurso de “pacificação”, assumiu um tom provocador ao chamar a resistência popular de “movimentozinho”. Estão em busca do confronto aberto, de uma motivo para aumentar a repressão, antes que as manifestações se tornem verdadeiramente uma ameaça ao poder ilegítimo. A proibição de manifestações nas Avenida Paulista, no domingo, e a colocação do Exército nas ruas, é uma tentativa irresponsável de envolver as Forças Armadas na repressão ao povo.

O golpe de estado não tem futuro, não estamos em 1964, e todos sabem disso, assim como esta claro que o presidente golpista é tão temporário quando demonstrou sua bronca nos aliados, que já ameaçam dividir o botim. Golpista não tem para onde correr, ou morre por aplicar  as medidas de arrocho e destruição de Meirelles, ou cai por não aplicá-las, pelas mãos do PSDB, os verdadeiros “donos” do golpe. É uma questão de tempo, de algumas semanas, meses, até o final do ano, segundo os mais otimistas, para que seja disparado o gatilho do “segundo” golpe.

Sendo assim, que as lideranças políticas e populares não sejam ingênuas de cair no conto da “primavera” de 2013, que apenas serviu para inocular o ovo da serpente na sociedade brasileira. É preciso ampliar a resistência, aumentar a presença nas ruas, radicalizar os protestos, mas com clareza dos objetivos, que não é promover desordem. É urgente, portanto, um centro de referência para as manifestações de resistência, uma Frente Politica que unifique as diversas forças em campo, e isole a ação golpista em seu interior.

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